Inspirado pela ideia de criar uma sociedade que coexistisse de forma sustentável com a natureza, o Japão se propôs a encontrar formas inovadoras de reciclar e regenerar recursos. Foi assim que nasceu o Centro de Ecologia Alimentar do Japão (Japan Food Ecology Center), uma organização que converte resíduos alimentares humanos em alimentos de alta qualidade para animais.
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A transformação de resíduos alimentares em alimento para porcos por meio da fermentação é uma ideia liderada por Koichi Takahashi.
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"Queria construir um projeto modelo para a economia circular. Em vez de depender das importações para alimentos, podemos aproveitar de forma eficaz os resíduos alimentares locais," diz Takahashi.
O desafio do desperdício alimentar no Japão
Do seu posto como o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, o Japão estabeleceu metas ambiciosas em relação às mudanças climáticas: reduzir as emissões em 46% até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Segundo Takahashi, abordar o desperdício de alimentos é uma parte crucial desses esforços.
O interesse deste empreendedor em criar um ciclo alimentar sustentável começou em 1998, quando o governo japonês lançou um projeto para promover a conversão de recursos desperdiçados em alimentos para o gado. Como veterinário praticante, Takahashi viu uma oportunidade para usar sua experiência com animais de fazenda e, ao mesmo tempo, cumprir seu desejo de ajudar o planeta.
História da fermentação no Japão
O Japão é um país líder na ciência da fermentação, um campo de estudo que abrange inovações que vão desde o desenvolvimento de biocombustíveis até a descoberta de antibióticos. Segundo Victoria Lee, historiadora da Universidade de Ohio, a habilidade do Japão em se destacar na ciência da fermentação se deve, em parte, ao foco único de seus pesquisadores nos micróbios.
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Lembremos que a fermentação tem sido objeto de estudo científico no Japão desde o século XIX, quando o governo começou a investir pesadamente na construção de novas indústrias baseadas em práticas antigas como a produção de saquê e molho de soja.
No século XX, a abordagem do Japão para a fermentação levou a uma visão única na qual os micróbios eram vistos como "trabalhadores vivos".
"Para os cientistas, mais do que um processo alimentar, a fermentação se tornou uma forma de transformar a sociedade e resolver vários problemas ambientais e de recursos", afirma Lee.
Do laboratório para o mercado
Takahashi começou a pressionar o governo e outras partes interessadas para permitir que ele levasse ao mercado o sistema de reciclagem de seu centro.
Ao contrário da maioria das plantas de tratamento de resíduos, que costumam ter um cheiro desagradável, o Centro de Ecologia Alimentar do Japão surpreende os visitantes pela ausência de odores fortes. Se houver alguma coisa, o ar se assemelha ao de uma loja de milkshakes.
Hoje, seu projeto é um verdadeiro sucesso.