Alexya Salvador, pastora e coordenadora pedagógica em São Paulo, revelou ao Universa, do UOL, que se tornou a primeira travesti a adotar no Brasil. Ela conta que sempre teve o sonho de ter filhos.
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“Vim de uma família muito grande e, desde muito jovem, dizia que queria ter pelo menos três. Mas não imaginava que eu seria mãe, muito menos que eu seria a mulher que eu sou hoje. Quando me casei com o Roberto, há 12 anos, fomos nutrindo esse desejo, até que nos sentimos prontos para ser pais”, escreveu.
Ela iniciou sua transição aos 28 anos e em 2014 começou a procurar por histórias de pessoas trans e travestis que tinha adotado e não encontrou nada.
“Isso me deu muito medo. Fomos conversar com a Cecília Coimbra, advogada especialista em adoção há mais de 18 anos, e ela disse: ‘Realmente, não conheço no Brasil uma travesti que tenha adotado. Então você vai ser a primeira’”, revelou.
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Em outubro de 2015, ela adotou seu primeiro filho: Gabriel, um menino com necessidades especiais.
“Se eu falar que em algum momento eu fui tratada com preconceito ou violência de forma direta, estarei mentindo, mas sofri com o preconceito velado: olhares, desconfortos, sabe? Na época, eu ainda não tinha retificado meus documentos, e as pessoas claramente não estavam acostumadas a ver uma mulher trans tentando ser mãe”, explicou.
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Ela ainda sentia que sua família precisaria de outra pessoa para ficar completa. Foi quando no ano seguinte seu telefone tocou.
“Era a Christiana Caribé, juíza da Vara da Infância e Juventude de Jaboatão dos Guararapes (PE). Ela tinha visto uma entrevista minha, na TV, dizendo que tinha o sonho de adotar uma criança trans, e me ligou porque tinha uma criança com características de ser uma menina trans na comarca dela. Perguntou: «Quer conhecê-la?»”.
Alexya logo disse quem sim e, com isso, começou a aproximação com a menina.
“Numa conversa por telefone, antes de eu conhecê-la pessoalmente, ela pediu: «Mainha, me traz roupa de menina?». Ela não queria sair do abrigo vestida de menino. Pediu vestido, calcinha, sutiã. Tudo aquilo tinha sido negado para ela”.
Quando chegou lá, Alexya perguntou como ela queria ser chamada. A menina disse que ela poderia escolher já que agora era sua mãe. “Então escolhi Ana Maria”.
“Passamos pela audiência de guarda, e saímos do fórum com ela sendo a nossa filha. Nossa família, que já existia, estava ganhando mais cor”, contou Alexya.
O destino
Mas o destino ainda apresentou outra oportunidade para a família. “Em 2019, a gente viu a história se repetir: meu telefone tocou novamente, porque outra menina trans, de 7 anos, estava à espera de adoção em Santos [litoral de São Paulo]. No mesmo dia, pegamos o carro e fomos até lá para conhecer a nossa terceira filha”.
Com carinho, Alexya conta com sua família é como qualquer outra.
“Nós somos uma família como qualquer outra: a gente dá amor, educa, coloca no cantinho da reflexão quando um deles faz alguma coisa errada. Mas carregamos essa bandeira de ser uma família transfetiva”.
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