Sexualidade

É possível engravidar sem fazer sexo? Falta de informação ainda confunde mulheres sobre gravidez

Matéria publicada pela BBC Brasil, revela um série de dúvida de mulheres sobre fertilidade e gestação

É possível engravidar sem fazer sexo? Falta de informação ainda confunde mulheres sobre gravidez (Foto: Reprodução)

É possível engravidar durante a menstruação? Dá para engravidar mesmo sem fazer sexo com penetração? Uma mulher grávida pode engravidar de novo ao mesmo tempo? Uma matéria publicada pela BBC News Brasil, revelou que essas dúvidas são comuns em consultórios médicos, fóruns na internet e em perfis de especialistas em redes sociais.

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Se você está curiosa para saber, a resposta é sim para todas essas perguntas, mas esses três tipos de gravidez são raros. Ou seja, são possíveis, mas muito improváveis.

Mas um ponto importante que essa reportagem nos traz é, ainda, a falta de informações sobre o sistema reprodutivo e educação sexual.

As dúvidas sobre engravidar durante a menstruação ou sem penetração, por exemplo, costumam aparecer porque muitas mulheres não têm acesso a informações claras e confiáveis. Por isso, diversas histórias que circulam entre mulheres podem confundir e desinformar.

Uma das dúvidas mais comuns sobre gravidez é: “Ouvi dizer que dá para engravidar se limpando com uma toalha suja de espermatozoides”. A resposta para essa pergunta é não. Mas é possível engravidar sem o sexo mais tradicional (ou seja, sem a penetração do pênis na vagina), embora seja difícil.

A BBC News Brasil esclarece com mais detalhes essas dúvidas logo a seguir.

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Mas é importante deixar uma coisa clara: garotas ou mulheres que menstruam podem engravidar antes, durante e depois da menstruação. Ou seja, não há época totalmente segura do mês em que uma mulher possa fazer sexo — sem usar um método contraceptivo (como camisinha ou pílula) — e não correr o risco de engravidar de forma indesejada.

É possível engravidar menstruada? Por quê?

É possível? Sim. É provável? Não.

Essas dúvidas estão ligadas a como funciona o ciclo menstrual, nome dado a uma série de mudanças que ocorrem no útero (órgão feminino onde se gera o feto) e seguem mais ou menos um calendário.

A cada ciclo menstrual, o corpo da mulher se prepara para a concepção (gerar um ser vivo). E para isso, acontece uma espécie de “cerimônia”, com mudanças em hormônios e preparação do endométrio (tecido do útero onde o embrião vai se prender), entre outras.

Na maioria das vezes, o ciclo menstrual dura 28 dias, mas há ciclos com 21 ou 30 dias, por exemplo. Apesar das diferenças de duração, o ciclo é dividido em três fases:

  • Folicular: começa no primeiro dia de menstruação e vai até o nono dia do ciclo. Nesse período, o óvulo é preparado no ovário para ser fecundado
  • Ovulatória: vai do 10º dia ao 14º dia do ciclo
  • Lútea: do 15º dia do ciclo até o início da próxima menstruação

Mas por que essas datas são importantes para entender por que mulheres podem engravidar se fizerem sexo durante a menstruação?

Por causa de dois grandes motivos. O primeiro é que essas datas podem variar. Ou seja, uma mulher pode começar a ovular antes ou depois da data que ela espera, por exemplo.

O segundo motivo é que os espermatozoides podem sobreviver até uma semana dentro do corpo da mulher. Ou seja, o sexo pode ocorrer durante a menstruação, mas o espermatozoide pode conseguir entrar no óvulo dias depois.

“Ou seja, uma relação sexual um pouco antes da ovulação, 1 ou 2 dias, eventualmente até 3 dias antes da ovulação, o espermatozoide ainda pode estar vivo no organismo dela e pode ocorrer a concepção, assim como uma relação 1 ou 2 dias após a ovulação também pode ocorrer a concepção”, explica o médico Luciano de Melo Pompei, presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).

Especialistas consideram que o período fértil (quando há mais chances de engravidar) pode começar alguns dias da fase ovulatória e pode seguir alguns dias depois dessa fase. Mas esses dias podem variar bastante de uma mulher para outra.

“Em geral, o período de desenvolvimento do óvulo dura cerca de 12 a 14 dias. Uma vez ocorrida a ovulação, o óvulo fica disponível para ser fertilizado por cerca de 24h. A ‘janela fértil’ engloba o intervalo dos dias que termina no dia da ovulação, que se manifesta pela presença do muco cervical filante (conhecido como ‘clara de ovo’)”, explica Márcia Mendonça Carneiro, professora do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

É importante repetir que engravidar durante a menstruação é bem difícil. Mas por quê?

Se a fecundação não acontecer, ou seja, se um espermatozoide não entrar num óvulo, há um processo de expulsão do óvulo não fecundado. O endométrio descama e há uma hemorragia, conhecida como menstruação.

“Por trás do sangramento, há acontecimentos ligados ao amadurecimento do óvulo, ovulação e preparação para a implantação do embrião. Assim, no momento em que há o sangramento menstrual, não há condições favoráveis para a ocorrência de gravidez”, explica Carneiro.

O médico Ricardo Tedesco, da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), reforça por que a menstruação é tão desfavorável para a fecundação.

“Quando a mulher está menstruada, ela está descamando o endométrio. Essa descamação, que resulta no sangramento menstrual, cria um ambiente hostil para o espermatozoide. É difícil para ele se locomover no contrafluxo da descamação do endométrio. Ele teria que vencer um ambiente completamente hostil. Mas é pouco provável que aconteça uma concepção”, conta Tedesco.

Há outros fatores ligados à possibilidade de engravidar durante a menstruação. Um deles é que algumas mulheres confundem sangramentos comuns na fase ovulatória com o início da menstruação. Isso pode acontecer por causa de algum vaso sanguíneo que estourou ou por causa do ciclo irregular de menstruação.

A menstruação irregular (ou seja, a duração das fases do ciclo menstrual pode variar a cada mês) é outro fator ligado à gravidez fora do período considerado fértil.

“Se a mulher tiver um ciclo irregular e de repente a sua ovulação for muito próxima da sua menstruação, teoricamente existe o risco de o espermatozoide ficar por um tempo viável e ao ovular — ela teve relação menstruada, mas já não está mais menstruada — , aquele espermatozoide vai lá e fecunda o óvulo. E a mulher engravida com uma relação que ela teve durante a menstruação”, explica Tedesco.

Ele conta que mulheres com menstruação regular têm potencial maior de engravidar porque ela tem mais ciclos ovulatórios (ou seja, o óvulo é liberado para ser fecundado). As mulheres, por outro lado, com menstruação irregular têm menos potencial de engravidar porque ela tem mais ciclos anovulatórios (ou seja, o óvulo não é liberado para ser fecundado).

Mas Tedesco lembra que “a falta de ovulação não quer dizer que ela nunca ovule. Ou seja, é que ela não consegue ter esse controle. E por isso a mulher que tem um ciclo irregular está mais sujeita a uma gravidez não programada”.

Por isso, os especialistas entrevistados para esta reportagem recomendam que as mulheres que não desejam engravidar devem praticar sexo com métodos contraceptivos, como camisinha (que também protege contra transmissão de doenças), pílula anticoncepcional, dispositivo intrauterino (DIU) e até laqueadura. Todos estão disponíveis na rede pública de saúde (SUS), mas a oferta varia de um Estado para outro.

A cada 100 mulheres grávidas, 85 delas não usavam métodos contraceptivos.

É possível engravidar sem fazer sexo ou nas preliminares?

Essa é uma dúvida que costuma preocupar principalmente pessoas que estão iniciando a vida sexual: “E se eu me relacionar sem penetração, será que eu posso engravidar virgem?”, costumam perguntar em consultórios médicos, segundo especialistas.

“Teoricamente é possível sim”, responde Pompei, da Sogesp.

Depende de cada situação, mas em todas elas será necessário que o esperma esteja dentro da vagina em condições adequadas para a gravidez.

“Em condições ambientais comuns, o espermatozoide não dura muito. Depende muito do meio onde ele vai estar, da temperatura, das condições de preservação para saber qual é a durabilidade desse esperma. Mas um esperma que acabou de ser ejaculado, por exemplo, se for colocado de alguma forma dentro da vagina, com algum dispositivo ou até com a mão, se conseguir introduzir dentro da vagina, teoricamente é possível sim engravidar”, afirma Pompei.

E se a ejaculação ocorrer fora da vagina e não haver nenhuma mão ou equipamento como um dildo (consolo) ou um vibrador?

O nome técnico disso é coito interfemoral, ou seja, com ejaculação na região genital externa, na vulva ou entre as pernas. E sim, ela pode levar a uma gravidez, mas é bastante improvável. “Se esse líquido seminal [esperma] escoar para dentro do canal vaginal, os espermatozoides têm movimento ciliar, eles nadam”, explica Tedesco, da Febrasgo.

Mas para isso o espermatozoide precisa vencer diversas barreiras. Sobreviver fora da vagina, passar pelo canal vaginal, pelo colo do útero, pelas trompas de falópio e só então tentar fecundar o óvulo no momento certo do ciclo menstrual.

É possível engravidar de uma outra gestação quando você já está grávida?

Já imaginou estar grávida e em consulta dos exames de rotina, ao fazer um ultrassom, por exemplo, descobrir que está grávida novamente, de outro bebê, mesmo já estando grávida. De onde veio esse novo bebê? É possível engravidar uma vez e depois de alguns dias, engravidar novamente?

“Sim, é possível. Mas essa também é uma situação muito, muito rara. Eu particularmente nunca vi nenhum caso na minha vida profissional, mas a gente ouve falar esporadicamente, às vezes na mídia. E acaba virando notícia exatamente pela raridade disso”, afirma Pompei, da Sogesp.

Mas qual é a chance disso acontecer? Carneiro, da UFMG, afirma que a chance é de 1 em 1 milhão de gestações.

O nome desse fenômeno é superfetação. Ele acontece quando um novo feto é concebido dias ou semanas após um bebê já ter sido gerado e se encontrar em desenvolvimento ali. Ou seja, ocorreu uma nova ovulação e concepção durante uma gravidez em andamento.

“Uma mulher pode ter duas ovulações seriadas e dois coitos seriados. Ela então engravida nas duas vezes. Não engravidou na mesma relação, foram em duas diferentes, mas é possível sim”, afirma Tedesco, da Febrasgo.

E é possível que essas duas gravidezes ao mesmo tempo sejam de dois pais diferentes? Sim.

“A mulher teria que ter duas ovulações ao mesmo tempo, o que por si só já teria a chance de gerar uma gestação gemelar (gravidez de mais de um feto) porque ela teria dois óvulos. Ao ter relação com dois homens diferentes, o esperma de um dos homens teria que fecundar um dos óvulos e o esperma do outro teria que fecundar o outro óvulo. E ainda assim os dois óvulos fecundados teriam que se implantar dentro do útero. Então, é muito raro, mas é possível. Possibilidade rara”, diz Tedesco.

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