Estilo de Vida

“Que cada dia mais as mulheres tenham coragem de denunciar”

Conheça a história de Paula Fernanda Telinski

Paula Fernanda Telinski (Reprodução: Instagram)

Quando a gente assiste documentários como “O Golpista do Tinder” achamos que aquelas coisas só acontecem bem longe de nós, não é mesmo? Mas não é bem assim. Paula Fernanda Telinski, de 34 anos, de Curitiba, passou por algo bem parecido e doloroso em sua vida.

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Ela, que já tinha passado por um casamento anterior, decidiu tentar uma nova vida em Curitiba com seus dois filhos, de 11 e 13 anos. Hoje em dia, a estilista trabalha com moda infantil e faz muito sucesso não só nesse ramo, mas também como locutora e oraculista, dividiu sua história com a gente.

Paula sempre adorou aulas de dança, tanto que na época que conheceu o golpista do caso, fazia academia, fit dance e dança do ventre, estando no melhor momento da sua vida, quando tudo mudou a partir do dia 6 de abril de 2019.

O relacionamento

“Que cada dia mais as mulheres tenham coragem de denunciar” (Reprodução: Instagram)

Nesse dia, Paula conheceu Eliyahu Ben Dalet em uma corrida de Uber, onde acabaram trocando contatos e começaram a se falar por WhatsApp para depois desenvolver um encontro pessoalmente. Eliyahu dizia que era israelense e morava no Brasil há 6 anos, fazendo intercâmbio e trabalhando de Uber nas horas vagas para aprender melhor a falar português. Para isso, ele portava até identidade e CNH israelenses, que eram falsos.

Paula já percebeu no primeiro encontro que algo estava errado com o sotaque dele, já que era inexistente. Para ela, Eliyahu contava que a família morava em Israel e até a convidou para visitar o país, tudo isso em apenas dois dias de conversa, o que fez Paula se assustar e acabar bloqueando Eliyahu.

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Somente 1 ano e 8 meses depois que o relacionamento começou a florescer novamente, com Paula dando uma chance para esse momento, que era algo que Eliyahu sempre quis desde o início.

Sempre muito presente e disponível, Eliyahu acabou conquistando Paula com muito carinho e amor. Durante as conversas pelo WhatsApp antes do segundo reencontro, Eliyahu contou para Paula que era autista, sendo diagnosticado aos 4 anos em Israel, fazendo todo o acompanhamento médico por lá, mas por conta da pandemia estava com dificuldades de voltar ao país para continuar o tratamento, sendo a primeira mentira dita no relacionamento.

As dificuldades financeiras

3 meses se passaram, e as dificuldades financeiras vieram. Eliyahu dizia que trabalhava para uma produtora de uma comunidade judaica existente no Brasil, mas não reconhecida, que não fazia os pagamentos, o que o deixava nervoso dizendo que não poderia pedir ajuda à família, pois o obrigariam a voltar para Israel. Como Paula estava apaixonada na época, decidiu ajudar o amado para que ele não fosse embora, com Eliyahu prometendo que devolveria o dinheiro. No total, Paula sofreu um prejuízo de 15 mil reais.

Paula chegou ainda a falar com Rivka, uma moça que Eliyahu dizia que era sua irmã, e que tinham um contato próximo, dizendo que a família estava bem feliz com tudo já que era o primeiro relacionamento duradouro do irmão e que isso não acontecia antes por conta do autismo. Para Paula, aquele sentimento era bem rico, principalmente por estar em contato com outra cultura, estudando muito sobre tudo. A irmã, no caso, não existe e foi mais uma mentira de Eliyahu.

Eliyahu chegou a passar mal por conta do autismo, o que fez com que Paula entrasse em contato com uma clínica de Curitiba para conseguir os medicamentos e uma consulta de emergência, já que ele estava apenas com um laudo em hebraico, que era falso, mas passou pelo médico de Curitiba.

O relacionamento dos dois não era um segredo, mas Eliyahu dizia que a comunidade não aceitaria o casal por Paula não ser judia, fazendo com que Paula não frequentasse a sinagoga nem nada, sendo também uma mentira. Para fomentar ainda mais isso, Eliyahu chegou a fazer uma chamada com seu pai em hebraico, mas na verdade o pai mora hoje no Rio Grande do Sul e não fala nada da língua.

A irmã Rivka chegou a falar que estava preparando uma festa de casamento para os dois em Isarel, que seria no dia 6 de abril de 2022, e que já estavam até trabalhando na documentação de Paula tanto para o casamento quanto para a mudança, sendo que Paula nem tinha sido comunicada ou questionada se era algo que queria.

Paula chegou até a comprar um computador para ajudar Eliyahu a trabalhar e prosperar na sua carreira de designer gráfico, mas nunca via o retorno prometido do dinheiro. Em agosto de 2021, eles chegaram a ter uma briga muito séria sobre dinheiro, já que Paula alegava que Eliyahu não se posicionava diante da empresa sobre os pagamentos não feitos.

Por conta disso, Eliyahu fingiu sofrer uma crise de autismo e culpou Paula pelo acontecimento, a fazendo sentir culpada por dias, fazendo uma violência psicológica que Paula não percebia no momento.

A descoberta do golpe

“Que cada dia mais as mulheres tenham coragem de denunciar” (Reprodução: Instagram)

Durante os 10 primeiros meses do relacionamento, Paula confiava muito em Eliyahu, mas depois começou a ter intuições de que algo de errado estava acontecendo, chegando até a questionar se era mesmo a irmã dele no WhatsApp com quem ela estava falando. As intuições se intensificaram quando ele mudou para Curitiba, mesma cidade de Paula, mas mesmo assim não a visitava muito.

Eliyahu prometeu que quando mudasse para Curitiba a questão financeira mudaria também, já que ele receberia o dobro e poderia pagar Paula, mas isso nunca aconteceu. Ela começou a questionar ainda mais essa questão financeira, o que desencadeou mais brigas, fazendo com que Paula fosse diagnosticada com crises de ansiedade por conta de todos os problemas.

No dia 14 de janeiro de 2022, após uma crise de ansiedade muito forte, Paula decidiu que Eliyahu iria levá-la na comunidade para resolver as coisas, e foi aí que começou a descobrir tudo, pois pediu para que ele a assumisse como noiva e que iria até se converter para que isso acontecesse.

O segurança da comunidade não os deixou entrar, alegando que era preciso marcar um horário com o rabino para poder encontrá-lo. “Ué, mas ele não trabalha aqui? Ele não faz as transmissões aqui? Como que ele não pode entrar” disse Paula, ingadaga com a situação.

Ao tentar terminar o relacionamento, Eliyahu implorava para Paula não fazer isso. Paula decidiu entrar em contato com o rabino da comunidade pelo Facebook, que confirmou que não conhecia Eliyahu. Com isso, ela também entrou em contato com o diretor de onde Eliyahu trabalhava, que disse que Paula era uma desconhecida para ele, já que Eliyahu era casado e tinha família.

Eliyahu negou tudo, mas Paula não acreditou e decidiu terminar o relacionamento, pedindo apenas o dinheiro de volta, que não recebeu até hoje. Os laudos de autismo eram do filho de Eliyahu, que na verdade se chama Patrick, e utilizou desses papéis para fomentar seu golpe. Patrick é brasileiro, nascido em Torres, Rio Grande do Sul.

Em uma ocasião, Eliyahu chegou a dopar Paula dizendo que estava oferecendo remédios para dor de cabeça, e nessa ocasião chegou a tirar fotos dela sem seu consentimento.

A família de Eliyahu

Dia 23 de janeiro, Paula decidiu entrar em contato com Rivka pelo contato que tinha para esclarecer o que faltava da história, só que esse número já estava com outra pessoa, que contou para Paula que ela não era a única a questionar sobre isso, descobrindo que mais uma pessoa tinha sido enganada por Patrick.

As duas decidiram fazer o flagrante de Patrick com a polícia, que não o prendeu. Paula chegou a encontrar a família real de Patrick, que em conversas com a irmã de Patrick descobriu que ele sempre teve problemas contando mentiras desde criança. A família de Patrick ficou do lado de Paula, a apoiando para denunciá-lo.

Patrick realmente tinha uma família, que terminou tudo com ele depois de descobrir o golpe. Paula deixa uma dica para que as mulheres não caírem no mesmo golpe que ela: acreditem em si mesmas, seja qual for a sua intuição. Hoje em dia, Paula se recupera da ansiedade causada por todo o golpe, que afetou todas as áreas de sua vida.

“Acho que minha vida nunca mais será a mesma… nem nos meus piores pesadelos pensaria que passava por isso”, conta Paula, que hoje em dia está em batalha judicial junto com outra mulher para recuperar o dinheiro que Patrick roubou. Além disso, ele chegou a ser enquadrado em quatro crimes pela Delegacia da Mulher, e o resultado aguarda a Justiça.

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Aviso

Este texto é de caráter meramente informativo e não tem a intenção de fornecer diagnósticos nem soluções para problemas médicos ou psicológicos. Em caso de dúvida, consulte um especialista antes de começar qualquer tipo de tratamento.

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