Atores do filme “Romeu e Julieta” de 1968 processam a Paramount por “abuso sexual” durante as filmagens

Os atores que estrelaram a versão de 1968 de “Romeu e Julieta”, dirigida por Franco Zeffirelli, abriram processo contra a Paramount na sexta-feira (4) por “abuso sexual”, “assédio sexual” e “fraude” por uma cena de nudez incluída no filme.

Leonard Whiting e Olivia Hussey tinham 16 e 15 anos, respectivamente, quando participaram do filme. Agora, as duas estrelas, de 71 e 70 anos, afirmam que o diretor Franco Zeffirelli as incentivou a fazer a cena nuas, apesar de ter garantido anteriormente que não precisariam passar por isso, e pedem US$ 500 milhões de indenização do estúdio, segundo informações da BBC.

O processo judicial mostra que os britânicos sofreram danos emocionais e angústia mental durante décadas, e que também os afetaram profissionalmente, já que desde a estreia do filme viram as suas ofertas de emprego limitadas.

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“Enganados”

Os atores argumentam que Zeffirelli, que morreu em 2019, prometeu a eles que usariam roupas íntimas da cor de sua pele na cena da cama.

Mas eles acrescentam que na manhã da filmagem ele implorou para que ficassem nus e com maquiagem corporal, argumentando que, se não o fizessem, o filme fracassaria.

Eles também disseram que o diretor garantiu que a câmera seria posicionada de forma a não capturar certas partes de seus corpos nus e que eles “acreditavam que não tinham escolha” a não ser seguir as instruções.

No entanto, as nádegas de Whiting e os seios de Hussey podem ser vistos brevemente no filme. No processo, os atores culpam principalmente Zeffirelli pelo “engano”, mas afirmam que a Paramount “sabia ou deveria saber que as imagens dos corpos nus dos queixosos foram secreta e ilegalmente capturadas durante as filmagens”.

E, portanto, os advogados de ambos afirmam que a cena violou as leis da Califórnia e federais contra indecência e exploração infantil.

A ação legal foi movida no Tribunal Superior do Condado de Los Angeles sob uma lei da Califórnia que suspende temporariamente o estatuto de limitações para abuso sexual infantil, o que levou a uma série de novos processos e ao renascimento de muitos outros, que anteriormente foram arquivados.

“Tenho medo que eles não acreditem neles”

Tony Marinozzi, gerente de negócios dos dois atores, disse à BBC que o diretor e o estúdio os “traíram”.

O casal não pôde entrar com uma ação legal antes por medo de possíveis consequências para suas carreiras e de que não acreditassem neles, acrescentou.

“Não havia como eles contarem essa história na época e fazer com que as pessoas os ouvissem”, explicou.

“Hoje vemos movimentos como #MeToo e outras plataformas, mas na época não havia como contar essa história, e é algo com o qual eles tiveram que conviver e provavelmente lutar por toda a vida”.

“Imagens de menores nus são ilegais e não devem ser exibidas”, acrescentou Solomon Gresen, advogado do casal, em um comunicado na terça-feira.

“Na década de 1960, eles eram muito jovens, crianças que não entendiam o que estava para acontecer com eles. De repente, eles se tornaram famosos em um nível que nunca esperariam e foram estuprados de tal forma que não sabiam como lidar com isso”, acrescentou.

Em entrevista concedida à revista Variety em 2018, Hussey defendeu a cena da nudez. “Ninguém da minha idade havia feito isso antes”, disse ela, acrescentando que Zeffirelli filmou com bom gosto. “Era necessário para o filme.”

Em outra entrevista naquele mesmo ano para a Fox News, ela disse que era uma cena “tabu” nos Estados Unidos, mas que a nudez era comum nos filmes europeus da época.

“Não foi um grande problema”, disse a atriz. “E Leonard não era nem um pouco tímido! No meio da filmagem, eu esqueci totalmente que ele não estava usando nenhuma roupa.”

O filme foi um grande sucesso na época e tem sido exibido para gerações de estudantes que analisam a obra de Shakespeare desde então. Foi indicado a quatro Oscars, incluindo Melhor Diretor e Melhor Filme, e ganhou dois, de Melhor Fotografia e Melhor Figurino.

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